As claras

31 08 2012

As claras

São a periferia

Vazia

O miolo 

É a enchente

De gente

Muitos habitam a mim

Dois pés e um caminho

Sozinho

Sufoco é liberdade

Saudade

Percurso não é futuro

Seguro

Aberto e sobra

Folga e verdade

Siga

Siga

Vaidade

As claras 

São o centro

Do acontecimento

Permeiam 

Processo lento

Escuro é multidão

É saída

Vida

As claras pelo escuro

O andante a caminhar 

No acontecimento

 

Imagem

 





Busque-se-me

29 07 2011

Não me leve!

Me traga…

Não me tome!

Me dê…

Sou metade inteira de uma inteira metade,

a outra é você!

Busque-me-se…

Busque-se-me…

Completude passageira!

A verdade é verdade,

Flanante e traiçoeira!

Quem muito se prende a uma ideia só,

em cada ponto, não sabe dar nó!

Siga, me seguindo, sem seguir-me o caminho

Ofereça-me sua ida, sua fé, seu ninho!

Minha estrada é também a sua

Minha vida ofereço-lhe, inteira, nua!

Cor, sabor, desespero, amor!

Porque par é par 

e a diferença não é ímpar!





O que acontece

29 07 2011

O que acontece

Padece

Carece

Adoece

Não se esquece

O que não acontece

Peleja

Fraqueja

Só uma cereja na bandeja

Aconteça ou esqueça

Fascínio?

Domínio?

Homem ou menino?

É tempo!





Xadrez enviesado

28 06 2010

O padrão é violento.

Afirma e nega

sem propósito.

Fecha as searas do mistério.

Inibe a compreensão.

Não tem teor compósito!

O padrão sela,

cala,

mata,

corta

e suprime.

Não permite depósito!

Sentidos são composições flanantes…

Padrões são destoantes!

Classificações descabidas!

Dor,

sofrimento

e feridas!

Não classifique,

não diminua!

Perceba a potência

da existência,

em suas possibilidades!

O padrão é singular.

A vida é plural!








Entre esquecer e lembrar: caminhos

26 05 2010

É preciso esquecer…

que é pra frente que se anda!

Quem segue apenas um caminho,

se perde, desanda!

Ande para frente…

mas volte, também,

para trás

passe pelos lados, voltas e revoltas

cansaço, mas um desejo que apraz!

Correr, parar…
para lembrar do poeta
que diz:

O caminho se faz ao caminhar!





Minha face: transmutens

21 02 2010

Hoje revi uma foto

Anterior a esse fervilhar

Meu semblante, confesso

Já não é mais igual.


A menina dos meus olhos

agora é um condor

Foi ele quem me disse:

dimensão política e ética

veja o que está por trás, por favor!


Meu nariz,

com olfato mais aguçado

fareja, reconhece…

Sente nas leituras,

O cheiro do que acontece.


Ah! Minhas orelhas,

inclinadas, mas serenas

atentas a escutar,

Foram elas que me disseram:

aqui não dá só para falar!


A boca,

essa desconheço

Quase gesticula sem parar

torce, contorce, fala

tem vida própria

diria que aprendeu a pensar

e por isso,

já sabe também calar!


Mas a pele

esse órgão tão complexo

Envolvente

agora desconexo

A pele, meus caros, refez-se

colidiu em nova roupagem

e  para minha felicidade

se misturou

está se misturando,

contínua e lentamente


Sempre uma nova face

dúbia, contraditória,

de gente-aprendente!


Click!

Não!

Apenas uma fotografia, não!

Em apenas uma não se percebe,

O movimento da mutação

Tire várias

Monte um álbum

Folheie as páginas

E veja a cada momento uma face outra

Transmutens…

De mim, que não sou,

a cada momento,

mais eu!






Pela vida…

24 12 2009

Da individualidade à subjetividade

Da inveja à admiração

Da coletividade à comunidade

Dos trechos à colaboração

Da tolerância ao respeito

Da explicação à compreensão

Da generalidade à universalidade

Do apoio à parceria

Da solidão à comunhão

Do diferente ao plural

Da sobrevivência à existência

Das convenções ao momento

Do padrão ao multiverso

Do premetidato ao espontâneo

Da apatia à iniciativa

Do medo à vontade

Do descaso ao cuidado

Do apego à partilha

Do pouco com muito ao muito com pouco

Do conjunto à interseção

Da segregação à mistura

Do uno ao múltiplo

Da palavra ao diálogo

Do montar ao criar

Do fazer ao descobrir

Do determinado ao devir

Do estar ao ser

Da verdade à possibilidade

Da ideia à ação

Dos fins aos começos

Das finalidades às experiências

Da inércia à continuidade

Da força à palavra

Do sim e do não à abertura

Do tempo aos momentos

Do destino ao acaso

Do vazio ao desejo

Do desejo aos aconteceres

Do meu ao nosso

Do eu ao você

De mim a ti

De nós a todos

Reflexões de um tempo contado como fim e de outro contado como começo… de vida que acontece!

São desejos comungados…

 





Duas faces da promessa: Gêmeos

13 12 2009

 

Te prometo

Alegria constante, energia, vitalidade

Ideias geniais e tolas

Fazer você rir de bobagens e de tristezas

Companhia, opinião, senso de comunhão

Te prometo

Noites incansáveis de amor

Ardência, fome, calor

Criatividade, intensão de verdade

Prometo

Manhãs rosadas e belas

Também  noites iluminadas 

E estrelas cadentes

A luz do sol no meu sorriso

O mistério da lua no meu caminhar

Eu te prometo

Uma novidade a cada dia

Pingos de chuva em tardes vadias

O suor do meu trabalho,

Também o suor do meu amor

Prometo

Palavras, audiências

Músicas e contendas

Força, razão, pé, mão

Numa só, a multidão

Prometo

Que não terei ideias repetidas

Nem poderá me prever

Te darei segurança insegura

E te deixarei me colher

Prometo

O tudo e também o nada

Razão e emoção

Liberdade com devoção

Prometo

O que hoje sinto

e não o amanhã

O devir da inconstância

É o preço que se paga

Hoje é hoje

O hoje é sempre!





Escolhas e opções…

4 12 2009

                                                                                                   

Eu tive escolhas

apesar de nenhuma opção

 no vácuo inerte da ilusão!

Ilusões

Falácias

Ambições despudoradas

Imagético da superfície

do belo

da pele

da sede

Uma fonte de opções,

mas não havia mais escolha

Prumo

para o rumo

Riso

para o gozo

Certezas

para serem destruídas!

 

Imagem: Olho de M. C. Escher





De muitos, de um!

7 11 2009

Uma angústia comungada,
pelo ato, pelo fato,
pelo tempo, pela fome
Como expressar a liberdade
sabendo isso parecer covarde?

Não piche as paredes
eu posso pintá-las
com as marcas da carne
novelos de lã
desenrolar, criar, compor
desfazer, fazer, amor?

Fim e começo,
antagonias despidas pelas escolhas comuns
Sim! Você também escolheu
Ela também sou eu!
É você… Ele? Não deixa de ser…

A criação está posta
Nessa aposta
Não espere o fim quando tudo tiver acabado,
O acabado não existe!
Inacabamento é começo, mas também é fim, é continuum, é devir, não sei, mas sei…

Texto escrito após a visita a exposição de Sophie Calle, Cuide de você, no MAM. Postado inicialmente no blog da exposição, endereço: http://blog.sophiecalle.com.br/?paged=1