Os dedos que tocam o piano
Deslizam sobre uma folha de papel em branco
São eles que escrevem e seguram a pena que risca
Os dedos que indicam, apontam, determinam
São os mesmos que acarinham e futucam
Penetram, beliscam e assanham os cabelos
Eles negam e trazem olhos para si
Mas abanam e se despedem
Problematizam e acalmam
São esses dedos corpóreos e também amorfos
Que limpam o suor, furam superfícies
e descobrem
e constróem
e quebram
e destróem
Mas não são dedos de um corpo
São dos corpos formados por eles
Corpos de relação, interação, fúria, gozo, dor, opressão, sabor, ponte, meta, ato…
São dedos anunciantes
Da gente, de gente, que sente, que é…